06/12/2021

Sobre anarquismo, sexo e casamento

GOLDMAN, EMMA. Sobre anarquismo, sexo e casamento. Tradução, organização e notas Mariana Lins. São Paulo: Hedra, 2021.

Sobre anarquismo, sexo e casamento consiste numa coletânea de textos – publicados e não publicados, uma entrevista e um rascunho inacabado. Nos quase quarenta anos que separam o primeiro texto desta coletânea, escrito em 1896, do último, de aproximadamente 1935, Goldman viajou incansáveis vezes pelos Estados Unidos, além da Europa, em incontáveis turnês de conferências – volta e meia, explicitamente, vigiadas por bandos de policiais, quando não canceladas pelas autoridades; organizou e participou de uma série de atividades como comícios, greves, levantamento de fundos para presos políticos, protestos etc. Foi detida, presa e julgada nos tribunais incontáveis vezes; até que, em 1917, sob o clima de histeria patriótica, com a entrada dos Estados Unidos na Primeira Grande Guerra, e de paranoia antivermelha, por conta da revolução bolchevique, foi considerada culpada pelo crime de conspiração, o que lhe rendeu a deportação à Rússia, em dezembro de 1919.

Quando deportada à Rússia, Goldman ainda tinha fé na revolução. Nascida numa província da Lituânia então pertencente ao Império Russo, em 1869, a então futura anarquista imigrou para os Estados Unidos, em 1885, onde, em meio à comunidade de imigrantes, se radicalizou. Ao testemunhar, porém, em primeira mão, a autocracia do governo bolchevique, desilude-se amargamente; e ao obter, em dezembro de 1921, uma autorização para deixar temporariamente a Rússia, deserta. A partir daí concentra boa parte dos seus esforços na denúncia do governo bolchevique e arrecadação de dinheiro para os seus prisioneiros políticos. Ao levarmos em conta o contexto pessoal e político mundial em foram escritos os textos dispostos na coletânea, faz-se ainda mais tocante a sensibilidade com que abordou a condição da mulher, a questão do seu sexo, conforme a sua terminologia, o que não separava, em absoluto, dos contextos culturais, econômicos e políticos, embora tampouco reduzisse a questão a essas esferas. Uma sensibilidade que, conforme a sua vida e textos atestam, era acompanhada de uma coragem tão surpreendente, quanto rara, verdadeiramente à altura da alcunha que lhe foi atribuída pela imprensa liberal: a de “Suma Sacerdotisa do Anarquismo” – uma “Suma Sacerdotisa” que, diga-se de passagem, nada tinha de casta.

Os textos dispostos na coletânea versam sobre  os temas do casamento e do sexo sob a perspectiva desta implacável anarquista, o que abrange uma série de subtemas como o controle de natalidade, o puritanismo norte-americano, a repressão sexual, o amor livre, a condição de mercadoria sexual imposta sobre a mulher durante eras, o ciúme, a prostituição, a homossexualidade, a desigualdade entre os sexos, a maternidade, a emancipação feminina, o movimento sufragista na Inglaterra e Estados Unidos e a trajetória de uma série de mulheres extraordinárias como Mary Wollstonecraft, Louise Michel e algumas das heroínas e mártires do movimento revolucionário russo, dentre as quais ela faz questão de destacar Maria Spiridonova.

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