11/12/2024
Imagens da noite: ensaios sobre raça e racialização
"Não é apenas que raça é algo imaginário, é reimaginar o que é o ser-imaginário da raça."
A proposta de Imagens da noite é fazer da raça um assunto propriamente filosófico, recorrendo às tradições filosóficas, mas tentando oferecer algo para muitos impensável. Por mais que muito se fale de racismo, de violência racial ou de identidades raciais, o ponto de partida é o esforço em pensar a natureza ontológica da raça, seu modo de ser, seu tipo peculiar de realidade. Para isso, dá-se um drible nos constrangimentos empíricos das ciências humanas e faz-se um chamado: navegar outros mares, em que as coisas funcionarão de outras maneiras.
Tomando elementos de diferentes teorias metafísicas, Victor Galdino propõe uma ontologia crítica do imaginário e situa a raça e os modos racializados de ser no interior de uma paisagem global sem tentar apanhar uma totalidade pelas palavras. Os objetos deste ativo estudo experimental são tratados como criações fantásticas, seres imaginários que não nos afetam como ficções literárias comuns: eles persistem, insistem, reproduzem-se, atravessam fronteiras, participam da organização de um mundo próprio. São realidades imaginais que nos precedem e excedem — em referência a uma antiga escola de filosofia persa.
A raça é pensada em seus usos variados, seja como tecnologia bélica nas práticas coloniais de liberdade, meio de manufatura de realidades, seja na sua potência de distorção temporal da experiência cotidiana, na sua persistência inventiva mesmo após os marcos históricos que nos separam do colonialismo moderno e da indústria global da escravidão, e nas suas vidas extraordinárias como formas dotadas de autonomias invisíveis. Estes são processos de racialização que dão nas muitas maneiras de dizer o ser-racializado: ser-negro, ser-amarelo, ser-africano, ser-asiático, ser-indígena, ser-vermelho, ser-árabe — e até mesmo ser-branco.
Com Ensaios sobre raça e racialização, espera-se oferecer algo não inteiramente inédito, mas que pouco tem aparecido: pensar raça para além do racismo e do binário negro-branco, analisando o que significa viver em um mundo racializado sem falar apenas de violência, abordando a experiência racial em sua amplitude e propondo, com isso, um novo conceito filosófico de raça.