22/06/2023

Perdoar: uma loucura do impossível

Livraria Travessa de Botafogo

É com uma enorme alegria que celebro a chegada desse potente trabalho de Victor Maia em torno do problema do perdão, tal como é colocado a partir da perspectiva da desconstrução. Como herdeiro do pensamento de Jacques Derrida, somando-se a isso seu percurso na psicanálise, Victor Maia nos mostra como tratar de um tema aparentemente fácil (ou se perdoa ou não se perdoa), mostrando as inúmeras aporias às quais somos conduzidos como leitores, tendo que nos confrontar com a questão da impossibilidade e o problema do que é da ordem do acontecimento.
Contudo, antes de qualquer coisa, pode-se dizer que este livro é um livro que trata da alteridade: é um livro sobre a relação com o outro (e, portanto, um livro escrito com, para, através e a partir do outro).

E, se Jacques Derrida parece ser o espectro que mais assombra Victor neste livro, ou talvez seja o pensamento de Victor que assombra Derrida, um feixe de nomes próprios parece aparecer para Victor para ajudá-lo nessa tarefa de nos contar as aporias do perdão: Hannah Arendt, Emmanuel Lévinas, Paul Ricœur, Vladimir Jankélévitch, vão, com e através de Victor, ajudando-o a tecer sua rede fina e frágil (como é necessário e como exigem as coisas mais sutis da filosofia), como a teia de aranha que arpeja ao vento, como a asa de uma libélula que tremula sobre a água ou como a pena de um pássaro que flutua sem rumo até nos alcançar.

Isso porque Victor Maia, em seu percurso para nos dizer sobre o perdão, entende que isso vai além de todo entendimento, toda reconciliação e toda lógica da apreensão. Victor torna-se o Mestre do Perdão, não porque saiba tudo do perdão, mas sim porque sabe que para o perdão não existe mestria e que só podemos, antes de tudo e sempre, pedir perdão.
[Rafael Haddock-Lobo]

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