19/01/2021
Chamada de artigos: Dossiê "Educação, Política e Etnicidade: reflexões sobre a bildung dos movimentos sociais indígenas"
UFPE
Dossiê “Educação, Política e Etnicidade: reflexões sobre a bildung dos movimentos sociais indígenas.”
Organizadores: Prof. Dr. Raphael Guazzelli Valerio, Professor adjunto do Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutor em Educação (UNESP-Marília). Prof. Me. Leonardo Borges Reis, Professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, Mestre em Filosofia (UNESP-Marília) e doutorando em Desenvolvimento Local (UCDB).
Os povos indígenas brasileiros são parte essencial da história dos processos de dominação e colonização, desempenharam diversos papéis na estruturação das sociedades coloniais e pós-coloniais. Nem sempre a historiografia e as ciências sociais permitiram compreender em amplitude o significado do protagonismo indígena nos processos sócio-históricos. Apenas recentemente os povos indígenas e seus movimentos sociais organizados foram reconhecidos como agentes sociais da esfera pública e, mesmo assim, a tentativa de domesticar o fenômeno indígena permanece como um traço de nossa institucionalidade. A violência física perpetrada na colonização dos povos indígenas também se reproduz no campo imaginário. As vítimas da ordem colonial são tratadas há tempos pelo viés da passividade. A noção de aculturação é exemplo desse perverso mecanismo, onde a submissão segue como ideia acoplada. Afinal, deixar de ser índio, aculturar-se, nada mais é do que uma segunda morte da violência etnocida. O choque das fronteiras culturais foi lido pelo poder como negação aos sujeitos da capacidade universalmente humana da resistência. O apagamento do protagonismo indígena é recorrente também em nossa historiografia. Em diversas oportunidades as estruturas culturais, que embasam o comportamento humano, foram tratadas como blocos inamovíveis. Na interpretação dualista e rígida do assimilacionismo, política, por fim, concreta para os indígenas ontem e hoje, a bildung iluminista se aplica apenas a uma parcela da humanidade, à outra, a parcela indígena, restaria a estrutura cultural fixa, imutável, de corte meramente sincrônico. Tendo em vista a compreensão da cultura como produto histórico, por isso flexível e dinâmico, há de se admitir a articulação permanente entre a tradição e as novas experiências vividas pelos povos originários. O presente Dossiê pretende assim dialogar de maneira interdisciplinar com todos aqueles que entendem a história dos povos indígenas pelo lócus das resistências adaptativas. A experiência da resistência indígena, ontem e hoje, permanece capaz de conectar o passado com o presente desses povos. A bildung dos movimentos indígenas demonstra que a cultura é mais do que o pré-requisito dos grupos étnicos, é também o produto de sujeitos históricos em movimento. O direito à educação intercultural e bilíngue, à tutela do Estado, à saúde e à reprodução dos meios de vida tradicionais, principalmente através do acesso às terras ancestrais, todos esses aspectos são mais que um corpus do direito social ocidental a desembocar na vida indígena. A pequena margem de direitos, muitas vezes apenas formais, são também e, sobretudo, resultado da formação através da resistência ancestral. Logo, é a reinvenção constante contra o invasor que permitiu a tais povos aqui chegar em seu confronto contra o Estado e a civilização.
Submissões em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/topicoseducacionais
Cronograma de atividades:
Prazo final para submissão de textos: 30/04/2021
Emissão de pareceres: 31/05/2021
Envio da versão final dos textos: 15/06/2021
Publicação do dossiê: 30/06/2021
Revista Tópicos Educacionais – CE – UFPE
Editores: Raylane Navarro Barreto e Raphael Guazzelli Valerio