13/04/2023
Dossiê - Centenário Michel Henry
Faculdades EST
Dossiê - Centenário Michel Henry, v. 63 n. 1 (2023).
Revista Estudos Teológicos, Faculdades EST, São Leopoldo, Rio Grande do Sul.
Organização: Prof. Dr. Silvestre Grzibowski (UFSM), Drª. Janilce Silva Praseres (UBI/PRAXIS), Dr. Marcelo Ramos Saldanha (Faculdades EST).
No dia 10 de janeiro de 2022, assinalou-se o centenário de nascimento de Michel Henry (1922-2002), reconhecido filósofo e fenomenólogo francês que possui um espaço ímpar na filosofia de expressão francesa. Neste mesmo ano completaram-se, ainda, 20 anos da sua morte. Naturalmente, estas datas são apenas oportunidades extrínsecas, meros recordatórios do filósofo francês, no Brasil e no Exterior, para que não esqueçamos a importância filosófica do seu pensamento. No sentido de celebrarmos o pensamento de Michel Henry e a repercussão do conjunto de toda a sua obra, que vai da filosofia à literatura, nasceu a vontade de construir e apresentar um dossiê dedicado ao pensamento henryano, por ocasião do seu centenário.Por diversas razões podemos julgar Michel Henry como um fenomenólogo, sobretudo, de cariz radical, principalmente quando voltamos a nossa atenção para o seu modo de colocar frente a frente verdades estabelecidas, como,por exemplo, ao questionar o modo de apreensão da própria intencionalidade, em que considera que,se a intencionalidade revela tudo, então, como éque ela própria se revela?Trata-se claramente de uma pretensão crítica da própria fenomenologia, que busca não apenas estabelecer uma fenomenologia em sentido nãointencional, mas também elucidar a própria questão do aparecer, o aparecer enquanto tal, a fenomenalidade do fenômeno.Neste sentido, ler Michel Henry é reclamar o seu lugar na filosofia por excelência, na empreitada de lançar, de voltar o olhar filosófico para a questão da Vida, que não é meramente um conceito abstrato ou biológico, mas trata-se profundamente de uma existência absoluta em que só um vivente a vive, numa interioridade fenomenológica,em que o leitor de Michel Henry é remetido, em suas últimas obras, para uma Fenomenologia da Encarnação, que se propõe a estabelecer o que está implicado em uma Arqui-Inteligibilidade, ou seja, na autodoação da Vida absoluta em sua efetividade patética desua Ipseidade.Deste modo, reler Michel Henryé também, na nossa circunstância filosófica, procurar tanto a proximidade como a distância que são indispensáveis para qualquer processo de leitura e análise crítica de um texto filosófico, do pensamento de umfilósofoe,de modo especial,no que se refere aos temas centrais que emergem desua obra, como é o caso daquestão da vida, do corpo, da carne, da fenomenalidade, de uma ética, da nãointencionalidade, entre outros. Seguir a trajetória filosófica Michel Henry implica, assim, um significativo coligir de referências primárias e secundárias, levantamento que, espera-se, possa congregar um significativo corpus, que,no sentido de M. Henry, podemos chamar ‘Fenomenologia’, mesmo quando nos possa surgir estranhamente ‘invertida’. Desta feita, as questões emergentes do pensamento henryano, nas palavras do próprio Michel Henry, devem ser trabalhadas com um “duplo olhar”. Ou melhor, resultam elas mesmas da duplicidade ou da dualidade do próprio aparecer: no mundo ou na Vida; no corpo e/ou na Carne –apenas para referir estas duas polaridades fundamentais em que se move a sua filosofia.A busca fundamental de Michel Henry é, assim, pelo fenômenooriginário e puro constituído pela Vida nela própriae reclama o lugar desta no seio do pensamento.