BOLETIM ANPOF ESPECIAL - Novembro Negro na ANPOF
Saudações a todas e todos. A decisão de tomar novembro como mês da consciência negra já é um indicativo da disputa que está em jogo. É a disputa pelo protagonismo do povo preto que reconhece em Zumbi dos Palmares, mais do que na Princesa Isabel, a sua pauta política e o caminho para a sua emancipação. Novembro é o mês de tornar mais visível aquilo que o cotidiano apaga na forma da indiferença, do desprezo e do recalque, mas que segue como estrutura fundante do Brasil: o racismo.
Entretanto, é importante não reduzir a condição da pessoa negra ao racismo que lhe é imposto. A negritude é complexa e múltipla na sua construção. E nesse sentido que a Anpof apresenta uma vasta produção das pessoas negras para convidar a comunidade filosófica brasileira, hegemonicamente branca, a pensar o seu papel na produção e reprodução do racismo.
Divulgamos o mais novo verbete da nossa enciclopédia visual, sobre “colorismo” feito pela profa. Dra. Adriana Delbó (UFG). Neste verbete, a professora questiona: a crença no colorismo sustenta o racismo e fortalece sua imperceptibilidade? Por que o colorismo é um dispositivo de uma política racial que quis embranquecer uma sociedade e para tanto tentou embranquecer o povo preto, mas manteve branca a elite?
O GT de Filosofia e Raça se reuniu pela primeira vez em um Encontro Anpof, no último mês de novembro, em Goiânia. Compartilhamos nos últimos dias algumas comunicações desse grupo de trabalho: Luis Ferrara (UnB) falando sobre "Memória, metafísica e racismo: acostamentos entre o pensamento de Hâmpaté Bâ e Beatriz Nascimento"; Leonardo Couto (CEFETRJ) compartilhando sobre “Jaime de Almeida, Lélia Gonzalez e o racismo brasileiro” e Luis Thiago Freire Dantas (UERJ) argumentando por uma “Escrita Filosófica como política de existência”. Também compartilhamos o podcast “Problematizando filosofia e raça”, gravado durante o Encontro Anpof com Ialley Lopes, mestranda em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco e Jéssica Oliveira, doutoranda em Cognição e Linguagem na Universidade Estadual do Norte Fluminense. Nesse episódio, gravado nesse encontro, as doutorandas questionam o conhecimento que se diz universal, mas que deixa escapar tantas experiências como as delas, pós-graduandas negras. O professor Edson Teles (Unifesp) ainda entrevistou a professora Halina Leal (FURB) e a advogada e mestranda em Filosofia Rosângela Martins (Unifesp) sobre a necessidade de enegrecer a filosofia brasileira. Nessa entrevista, elas falam como a discussão das questões raciais em nossos programas de pós-graduação e nos eventos acadêmicos incidem sobre as epistemologias de nossas pesquisas. Por fim, compartilhamos a entrevista que o prof. Marcos Carvalho Lopes (UFJ) realizou com o filósofo Filomeno Lopes, que fez uma conferência em nosso XIX Encontro Anpof e que pode ser assistida em nosso canal no YouTube. A entrevista “Filosofia em volta do fogo” foi publicada na edição 157 da Revista Humanitas. Nesta entrevista, o filósofo argumenta em defesa do reconhecimento de uma história em comum, que funcionaria como abertura para o diálogo. Ele reconhece que essa história em comum implica lidar com as dificuldades de um contexto de colonização que tornou também a filosofia uma prática de erudição vazia, desconectada do contexto e dos problemas vivenciados cotidianamente em sociedades que cultivam um grau de desigualdade extrema. Te convidamos a acessar os conteúdos, refletir e discutir sobre, pois como disse a professora Halina Leal, “para combater o racismo é preciso que as pessoas que ocupam os espaços filosóficos (na sua maioria, ainda pessoas brancas) se engajem na mudança. As lutas antirracistas não podem ficar somente a cargo das pessoas negras, cujas dificuldades que enfrentam já são enormes”. |