Porchat, a lógica e a verdade: Homenagem ao professor Oswaldo Porchat

Eduardo Barrio

UBA, Argentina

15/12/2017 • Coluna ANPOF

Lembro-me de que havia uma linguagem comum entre nós: seu estilo de abordagem dos problemas filosóficos, seu rigor argumentativo, sua capacidade de análise era o que estávamos procurando. Assim que o conheci, percebi que estava diante de uma figura única. Eu não estava errado. Naquela época, eu já estava preocupado com o conceito de verdade e nas inesquecíveis viagens a São Paulo e a Curitiba defendia o deflacionismo sobre a verdade. Como é bem sabido, Porchat defendeu explicitamente uma certa versão do correspondencialismo. Nossas discussões, que também envolveram aqueles que rapidamente se tornaram meus melhores amigos no Brasil, são para mim inesquecíveis. Então, minha paixão pela lógica e nossos desacordos me uniram ainda mais a eles. Juntamente com Plinio e Waldomiro, Porchat tornou-se uma referência obrigatória para minhas ideias sobre a possibilidade de um desacordo sem que as partes cometam erros. Qual conceito de negação devemos adotar se quisermos tolerar a possibilidade de discordar de maneira argumentada? Para os céticos e para Porchat, esse desacordo bem argumentado era típico, especialmente na filosofia. Devo também destacar outra característica que me surpreendeu: sua horizontalidade. Porchat já era naquele momento um dos mais importantes filósofos ibero-americanos, enquanto eu era um jovem filósofo com um doutorado, com o desejo de elaborar teses filosóficas. Porchat prestou atenção a todos igualmente, discutiu as ideias de todos, independentemente da hierarquia ou de quem éramos. Essa grande virtude não era muito difundida no meu país e provavelmente também não no Brasil dessa época. Não havia hierarquias e todos nós éramos igualmente importantes. Ou, o que é melhor, as únicas coisas importantes eram as ideias e os argumentos. Obviamente, o ceticismo de Porchat sempre o colocava na posição de ser um crítico devastador para qualquer ideia dogmática que pudesse nos tentar. Sempre havia outro argumento a ser dado, sempre havia um novo desafio. Sua horizontalidade, sua modéstia, sua generosidade e espírito crítico foram e continuarão a ser uma grande inspiração para mim.

Finalmente, aqueles de nós que conheceram Porchat nunca esquecerão suas histórias. Posso dizer que conheci a Grécia através da sua insuperável história. Porchat estava na Grécia e, tendo lido “Padaria” na porta de entrada de uma padaria, entrou para comprar pão. Como não falava grego moderno, pediu um pão em grego antigo, já que a palavra “padaria” em grego continha a palavra “pão”. O padeiro não entendeu, Porchat repetiu e o padeiro continuou não entendendo. Uma pessoa ao seu lado perguntou-lhe se ele falava francês e, então, explicou-lhe que, embora no nome do lugar a palavra “pão” tinha sido preservada, a palavrausada para o pão era outra desde a invasão turca! Causa uma tristeza saber que não teremos novas histórias... Mas essa sensação de vazio é compensada por seu legado, que é e será indelével em nossas comunidades filosóficas. Há pessoas que mudam o mundo ao seu redor, Porchat era uma delas.