O longo alcance da ANPOF Ensino Médio

13/12/2014 • Entrevistas

A entrevista transcrita a seguir foi por mim concedida a Paula Felix Palma, editora da Revista Filosofia Ciência & Vida. Foi publicada, numa versão resumida, na edição 77 daquela revista e, na íntegra, na página do Facebook da mesma revista. O propósito de reproduzi-la aqui mais uma vez – agora, com novas imagens – é registrar nesta seção a memória de um episódio ocorrido durante o XV Encontro Nacional da ANPOF cuja importância se medirá no futuro por seu impacto na qualificação da presença não apenas da “filosofia na escola”, mas também da “escola na filosofia”, com o perdão do trocadilho. O episódio em questão é a ANPOF Ensino Médio ou, simplesmente, a ANPOF_EM. Três eventos reunidos deram corpo à programação inaugural da ANPOF_EM: 21 apresentações de relatos de experiência, 10 minicurso e uma sessão plenária intitulada “Simpósio da ANPOF_EM”, na qual se discutiu a articulação entre a pós-graduação e o ensino de filosofia nas escolas.

Todos sabem que as discussões sobre a filosofia nas escolas não são nenhuma novidade nos encontros promovidos pela ANPOF. Ao menos desde 2004, o tema figura entre os assuntos que integram a agenda da associação. A constituição e integração do GT “Filosofar e Ensinar a Filosofar” à ANPOF datam desse período. Mas o encontro de 2012 deverá ser para sempre lembrado pelo salto qualitativo que proporcionou à relação da ANPOF com a educação básica, com uma presença massiva e qualificada da “escola na filosofia”. O elemento catalisador desse salto foi a entrada em cena dos professores de filosofia da escola básica na condição de protagonistas. Para um melhor juízo da competência e da determinação com que eles aceitaram o desafio dessa nova condição, convido-os a assistir aos registros em vídeo das sessões de relatos de experiência, agora já disponíveis no canal da ANPOF_Em no Youtube.

Quero, por fim, ainda destacar que a ANPOF_EM também foi destaque na edição de novembro de 2012 da publicação eletrônica Alô, Professor, do Instituto Ciência Hoje.

Eduardo Barra

Coordenador da comissão organizadora da ANPOF_EM

 

Revista Filosofia Ciência & Vida – Esta foi a primeira vez que a ANPOF convidou professores a participarem do evento e houve uma programação especial. Qual importância dessa iniciativa?

 

Eduardo Barra – Sim, foi a primeira vez que os professores do ensino médio foram convidados a participar do Encontro Nacional de Filosofia não na simples condição de ouvintes, mas na condição de protagonista do evento. Houve uma programação especial voltada a esse segmento da comunidade filosófica nacional, um segmento que, ninguém desconhece, esteve à margem dos avanços vivenciados recentemente em segmentos mais diretamente ligados à pós-graduação. Foi justamente para construir esse vínculo com a pós-graduação, expandindo ainda mais os seus efeitos revitalizadores, que a programação voltada aos professores da escola básica foi pensada.

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E reparem que estamos falando aqui não deste ou daquele professor, que, como toda pessoa interessada e estudiosa da filosofia, sempre pôde participar dos encontros promovidos pela ANPOF. Estamos falando de uma coletividade. Uma coletividade que, desse modo, passou da condição de ouvinte à de protagonista do evento. E, mais ainda, estamos falando de uma coletividade que foi convidada sobretudo a falar e compartilhar com os demais interessados suas experiências, realizações e inquietações no campo da pesquisa e do ensino da filosofia.

 

Ora, se pensarmos que nesses encontros o protagonismo sempre esteve do lado da pesquisa de alto nível, essa foi uma grande mudança. Logo, é natural que a presença massiva de novos agentes tenha motivado certas desconfianças sobre um possível desvirtuamento da ANPOF em prejuízo da pesquisa de alto nível. Mas todos nós que lá estivemos podemos testemunhar que não foi isso o que se viu. Houve, sim, uma profícua e promissora convivência e cooperação entre duas culturas – a universitária e a escolar – que, nos últimos anos estiveram profundamente apartadas, mas que em todas as áreas de conhecimento dão sinais evidentes de confluências, com benefícios para ambos os polos dessa dissenção.

RFCV – A secretaria da Educação do Paraná ajudou a ANPOF EM? Como se deu essa parceria? Quantos professores participaram e como foi a recepção deles ao evento?

EB – A SEED-PR tem sido, ao longo de muitos anos e de muitos governos estaduais, uma importante promotora do enraizamento da filosofia nas escolas. Nos últimos anos, a sua grande realização nesse campo foi a publicação de uma obra magnífica, na forma de uma publicação didática, intitulada Antologia de Textos Filosóficos, primorosamente planejada e editada pelo professor Jairo Marçal.

Em 2011, quando das minhas primeiras conversas com o professor Vinicius Figueiredo, presidente da ANPOF, sobre algo nessa linha para o evento deste ano, logo nos ocorreu fazer um convite especial à SEED-PR, para que figurasse na condição de copromotora da programação voltada ao ensino médio. A resposta da SEED-PR foi a mais entusiasmada possível. Tivemos, então, desde o início dos preparativos, nos técnicos da SEED-PR, professores Edson Pegoraro e Wilson Vieira, os nossos mais constantes e entusiasmados parceiros.

A resposta positiva da parte dos professores da rede pública estadual foi, então, na mesma intensidade. Dos 121 trabalhos submetidos às sessões de relatos de experiência, vindas de 15 Estados (ver quadro comparativo abaixo), cerca de 50% foram de professores do Paraná, que, por ser o Estado sede do evento, teria naturalmente um maior número de interessados. O critério adotado para a seleção dos trabalho foi exclusivamente o da qualidade dos relatos no que diz respeito à sua contribuição para a consolidação do ensino de filosofia nas escolas e do seu potencial de replicação em outras localidades. O resultado final revelou que a predominância numérica do PR também se manteve – e até foi ampliada – quando o critério passou a ser o da qualidade. Dos 21 trabalhos selecionados, 12 eram de professores paranaense, isto é, 57% do total.

Incluindo esses professores que participaram do evento na condição de autores dos trabalhos apresentados, a SEED-PR financiou a participação de um total de 150 professores de filosofia, que vieram de diversas regiões do Estado. Esses professores participaram, durante os cinco dias do evento, de palestras, debates acadêmicos e culturais, ciclos de cinemas, feiras de livros etc., o que talvez para muitos deles tenha sido a primeira oportunidade de tomar contato com esse grand monde da filosofia nacional. Por isso, a preocupação não foi proporcionar-lhes apenas atividades direcionados aos seus afazeres mais imediatos na escola. Tínhamos que envolvê-los também em atividades nas quais o interesse fosse tão somente a filosofia. A proposta era justamente não construir um circuíto exclusivo para professores no interior do evento. A proposta era, ao contrário, incluí-los na programação geral, tentando transpor as fronteiras entre as culturas escolar e universitária.

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Acho que, se ainda não conseguimos atingir esse objetivo nessa primeira edição da ANPOF Ensino Médio, chegamos muito perto disso. Mas, de qualquer forma, mesmo uma conquista incontestável nesse campo não nos permite ainda sentar em cima dos nossos presumidos louros. Há muito ainda a fazer diante do tamanho do desafio que temos pela frente.

RFCV – Quais as principais ideias discutidas no simpósio ANPOF EM? Afinal, qual é a importância da integração da pós-graduação com a educação básica em Filosofia? O que poderá ser aproveitado dessa discussão para a prática na sala de aula?

EB – Conforme já adiantei, a presença do ensino médio na ANPOF somente se justifica se houver uma demanda específica desse segmento no campo da pós-graduação; afinal, essa é a razão de ser da ANPOF. Nesse sentido, uma das sequências mais importantes da programação da ANPOF foi o Simpósio que se desenrolou justamente em torno da articulação entre pós-graduação e educação básica. Esse simpósio foi extremamente concorrido. Havia mais de 200 pessoas no auditório, e muitas outras nem puderam entrar no recinto. Foram quase quatro horas de intensa discussão, com uma ampla participação do público presente. Talvez jamais o tema tenha sido tão eloquentemente debatido entre nós da filosofia.

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Mas como é comum em circunstâncias como essas, onde uma determinada demanda fica represada por tanto tempo, ouviu-se uma verdadeira avalanche de críticas e propostas, sem que fosse possível vislumbrar uma clara articulação ou continuidade entre elas. Falou-se da possibilidade de os atuais programas de pós-graduação em filosofia incorporarem linhas de pesquisa em ensino de filosofia – a professora Patrícia Velasco, presente à mesa, adiantou elementos de uma proposta que sua universidade (UFABC) submeterá em breve à CAPES. Falou-se do antagonismo entre os tradicionais cursos de especialização e os polêmicos mestrados profissionais para professores – o professor Felipe Ceppas, também presente à mesa, destacou a importância dos cursos de especialização para professores atualmente oferecidos pela UFRJ. Falou-se, enfim, da necessidade de planejar ações ouvindo mais diretamente os professores e considerando prioritariamente suas expectativas – o professor Danilo

Marcondes, represente da área de filosofia no CTC da CAPES, mais um dos presentes à mesa, alertou para os riscos de conduzir esse processo à luz apenas dos parâmetros próprios dos departamentos de filosofia e da pós-graduação acadêmica em filosofia.

Pouca coisa do que foi ali discutido, infelizmente, reverte diretamente para a sala de aula. Para essa finalidade, estavam mais diretamente direcionadas os relatos de experiência. Nas sessões de relatos de experiência, sim, ouviu-se e discutiu-se uma expressiva variedade de práticas e propostas para o ensino da filosofia, em contextos muito variados, escolas da cidade e do campo, educação regular e educação especial, ensino regular e ensino técnico, etc.. Mas se pensarmos decididamente numa pós-graduação que incorpore as experiências dos professores – isto é, que seja dos e não apenas para os professores – os relatos de experiência tendem a assumir o centro das atenções das futuras ANPOF Ensino Médio. Assim, esperamos.

RFCV – O resultado esperado para esse evento foi alcançado? Qual a sua avaliação desse projeto? Espera-se continuar ou ampliar essa iniciativa nas próximas ANPOFs?

EB – Sob muitos pontos de vista, o evento foi um sucesso. Mas já falei muito deles. Permita-me aproveitar a sua pergunta para, agora, falar um pouco sobre o que eu acho que não funcionou bem e que devemos desde já iniciar uma discussão para corrigir nas futuras edições.

Primeiro, acho que o exemplo de cooperação com a SEED-PR tem que ser estendido às secretarias de educação de outros Estados. Sei que a muitos pode parecer uma medida meramente burocrática baseada num acordo protocolar com essa ou aquela secretaria para que os professores dos seus quadros participem da ANPOF Ensino Médio. Mas acho que isso é um equívoco. Conforme havia dito, há distâncias culturais expressivas entre os agentes escolares e universitários. Por mais indesejáveis que sejam, essas distâncias não podem ser ignoradas. A simples presença dos dirigentes das secretarias de educação na organização de eventos como a ANPOF Ensino Médio pode ser um importante fator de encurtamento dessas distâncias e, portanto, de aproximação com o universo das escolas e dos seus professores. Já imaginaram se, na edição de 2014 da ANPOF Ensino Médio, tivermos como copromotores, além da SEED-PR, as secretárias de Estados tais como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia e Alagoas, para citar apenas os Estados de onde viram as experiências relatadas no evento deste ano? Talvez, nesse caso hipotético, o Encontro Nacional de Filosofia se torne pequeno para abrigar tantos participantes.

Uma segunda frente importante de preocupação para a próxima edição será a integração das atividades da ANPOF Ensino Médio com as ações do grupo de pesquisadores que, há cerca de 10 anos, tem se reunido no GT Filosofar e Ensinar a Filosofia durante os encontros promovidos pela ANPOF. Dois representantes do GT, professores Felipe Ceppas e Marcelo Guimarães, fizeram parte da comissão organizadora da ANPOF Ensino Médio. Os demais membros do GT tiveram destacada atuação como debatedores nas sessões voltadas ao ensino médio.

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Até aqui nada de extraordinário; tudo muito previsível e natural. Ocorre, entretanto, que a maioria dos membros desse GT têm vínculos ou são egressos de programas de pós-graduação em educação, onde fizeram uma boa parte da sua formação. Sendo esse o quadro, o desafio de estabelecer um diálogo da pós-graduação em filosofia com a cultura escolar passa pelo diálogo com um terceiro agente, que na minha intervenção durante o simpósio do ensino médio chamei de uma cultura exógena – e que alguns entenderam como cultura alienígena. Não acho que a pós-graduação em educação seja um cultura alienígena no território da pós-graduação em filosofia. Mas não se pode desconhecer que é ela exógena. Se não desejamos a uniformidade cultural e valorizamos a diversidade, temos que estar preparados para compreender essa distância e contribuir para construir pontes de mão dupla entre esses dois polos.

Tome-se como exemplo o que ocorreu com a área de ensino de ciência. Deixando de lado tudo que nos distingue dessa área, as pós-graduações em ensino de ciência oferecem hoje um território de cooperação entre as formações em física, química ou biologia (e, na maioria das vezes, matemática), por um lado, e educação, por outro. Não temos nada parecido com isso ainda na filosofia. Mas precisamos construir esse tipo de "terceira cultura" com a máxima urgência. Creio que esse será, portanto, o segundo grande desafio para o futuro da ANPOF Ensino Médio.

RFCV – Grandes nomes como Oswaldo Giaccoia e Walter Kohan ofereceram minicursos durante a ANPOF. Qual era o objetivo desses minicursos? O que você pode destacar dentre as atividades propostas e que tiveram êxito e de pessoas de peso que compartilharam desse projeto?

EB – Desde os primeiros movimentos na direção da promoção de algo como o que depois se transformou na ANPOF Ensino Médio, tivemos o apoio de pessoas de peso dentro da comunidade filosófica nacional. O primeiro e mais decisivo apoio foi do próprio presidente da ANPOF, Vinícius Figueiredo, que foi quem teve a ideia inicial do evento e convidou cada um de nós que fizemos parte da comissão organizadora. Sem o apoio irrestrito e a sustentação material e moral oferecido pelo Vinícius, o evento não teria alcançado o êxito que alcançou. As convicções dele a respeito da importância do que estávamos fazendo foram decisivas para nos empenhar na sua realização.

Portanto, ninguém mais do que o Vinícius colocou seu prestígio e sua liderança à serviço do sucesso dessa iniciativa.

Mas isso não retira a importância de apoio que imediatamente recebemos de outros colegas e lideranças intelectuais da área, tais como a que você citou. A lista é enorme. Posso estar sendo injusto com alguém. Mas devo destacar a adesão que a ideia teve de todos aqueles que nos ajudaram a selecionar os trabalhos para as sessões de relatos de experiência. Esses colegas foram os professores Antonio Edmilson Paschoal (PUCPR), Celso Pinheiro (UFPR), Danilo Marcondes (PUCRJ), Delamar Dutra (UFSC), Edgar Lyra (PUCRJ), Elisete Tomazetti (UFSM), Geraldo Balduino Horn (UFPR), Inara Zanuzzi (UFRGS), Jairo Marçal (Unibrasil), Marcelo Marques (UFMG), Marcos von Zuben (UERN), Patrícia Velasco (UFABC), Pedro Gontijo (UnB), Renato Nogueira Jr. (UFRRJ), Roberto Rondon (UFPB), Silvio Gallo (Unicamp), Telma Birchat (UFMG), Walter Kohan (UERJ).

Para os minicursos, além dos nomes que você citou, podemos contar com a colaboração de Danilo Marcondes (PUC-RJ), Edgar Lyra (PUC-RJ), Filipe Ceppas (UFRJ), Newton Bignotto (UFMG), Jorge Viesenteinar (PUC-PR), Patrícia Velasco (UFABC), Patrícia Kauark Leite (UFMG), Renato Noguera (UFRRJ) e Sônia Maria Schio (UFPel).

 

Sem sombra de dúvida, é um time de primeira. Mas o nosso grande orgulho não foi ter mobilizado esses colegas que, sem ou com ANPOF Ensino Médio, seriam presenças certas no XV Encontro Nacional de Filosofia. A nossa satisfação foi ter permitido que o professor anônimo, do interior do País, de um lugar tão cultural e educacionalmente distante dos grandes centros urbanos quanto Ventania (PR) ou São Mateus (ES) ou Porto Seguro (BA) ocupassem o centro das atenções dos participantes do encontro e tivessem seus trabalhos acolhidos com o mesmo grau de atenção e dignidade dispensado aos principais pesquisadores da área.

RFCV – Por fim, como você vê a Filosofia no ensino médio hoje, qual a importância e o que precisa ser melhorado? Crianças mais novas, do ensino básico, deveriam ter contato com a disciplina?

EB – Vou responder a pergunta falando sobre algo que vejo aqui na minha universidade, a partir de um período muito curto – não mais que três anos – de convivência com os problemas e desafios da área. E justamente por ter uma trajetória de formação muito distante e marginal às questões do ensino que talvez possa colaborar oferecendo um ponto de vista incomum sobre algo que deve ser aprimorado.

Sem prejuízo de qualquer outra das demais lutas para a consolidação da filosofia no ensino médio, creio que um desafio importante nesse sentido é conquistar os próprios departamentos de filosofia para essa causa. Venho de um departamento – e vi pelo País muitos outros muito semelhantes ao meu – em que a principal agenda foi por mais de uma década a consolidação da pós-graduação. Em 2011, finalmente, chegamos onde pretendíamos. Obtivemos da CAPES a autorização para iniciarmos um curso de doutorado em filosofia. O sentimento geral foi de um genuína conquista coletiva. Éramos cerca de 18 professores envolvidos nesse processo. Todos sentiam que haviam contribuído decisivamente para isso. E por que isso? Porque, na minha avaliação, a pesquisa tornou-se um valor supremo e inquestionável entre nós professores universitários. Esse valor foi objeto de um processo semelhante àquele que Foucault identificou nos mecanismo do poder. Ela capilarizou-se, irradiou-se por todas as práticas da docência universitária.

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Acredito que esse caso de sucesso deveria servir de modelo para traçar estratégias que visem valorizar a formação de professores para escola básica – objetivo supremo dos nossos atuais cursos de licenciatura em filosofia, que estão longe de desfrutar o mesmo grau de importância e dignidade que a formação de pesquisadores obteve nos últimos anos nos cursos de graduação em filosofia nas universidades brasileiras.

 

Prefiro pensar assim porque, desse modo, não estou obrigado a opor bacharelado e licenciatura, conforme se tornou um lugar comum entre aqueles que normalmente militam em favor da última. Ao contrário, estou mais interessado em apreender com os acertos do outro lado, e em aliar-me e não me rivalizar com eles. Somente assim, creio eu, poderemos imaginar dias melhores para as licenciaturas em filosofia nas universidades brasileiras. E, sem melhores dias para as licenciaturas em filosofia, não haverá boas perspectivas para o ensino de filosofia na escola básica.

Aqui no PR há uma expectativa de contratar cerca de 1,4 mil professores de filosofia no próximo concurso da SEED-PR, em 2013. Há sérias dúvidas se temos de fato no Estado esse número de professores à disposição para assumir esses cargos. Mas dúvidas ainda maiores devem haver sobre se os potenciais candidatos a essas vagas estão em condições de oferecer um ensino de filosofia de boa qualidade à população.

O baixo investimento público em programas de valorização da formação de professores por anos a fio ficou patente quando, há poucos anos, o Governo Federal passou a investir massivamente nesse setor. Desde 2007, foram criados programas como o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) e o Pró-docência, que ainda atingem uma parte muito pequena do público potencial para programas dessa natureza.

Mas é importante dizer que de nada adiantam os investimentos públicos sem uma resposta à altura por parte dos próprios departamentos de filosofia – uma resposta que seja tão decidida, efetiva e generalizada quanto foi a resposta que por mais de uma década os departamentos das principais universidades brasileiras têm dado às demandas da pesquisa e da pós-graduação, que potencializaram e qualificaram os atuais cursos de bacharelado em filosofia.