"O racismo epistêmico é um dos elementos determinantes no ensino de filosofia" - entrevista com Katiúscia Ribeiro
Érico Andrade
Professor do Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco
02/08/2024 • Entrevistas
A noite de terça-feira (1/10) do XX Encontro Anpof, que será realizado em Recife entre os dias 30 de setembro e 4 de outubro, terá como tema de debate História da Filosofia. Nesta entrevista, o professor Dr. Érico Andrade (UFPE/presidente da Anpof) conversa com a profa. Dra. Katiúscia Ribeiro (PUC/SP), uma das palestrantes, que dividirá a mesa com os professores Dr. Ernani Chaves (UFPA) e Dra. Helena Theodoro (UFRJ).
Nesta entrevista, ela argumenta como a filosofia africana ainda é marginalizada e pouco estudada nas universidades brasileiras e como isso impacta na pouca compreensão para o pensamento filosófico de forma mais ampla e como limita a riqueza do pensamento humano. Ela ainda compartilha como é ser um corpo negro na Filosofia Brasileira, que ainda tem uma baixa presença das pessoas negras, sobretudo na pós-graduação e como isos implica enfrentar, dirariamente, o racismo subjetivo e estrutural.
Érico Andrade: No seu percurso na filosofia quais foram as dificuldades para o conhecimento de outras tradições filosóficas?
No meu percurso na filosofia, as dificuldades para o conhecimento de outras tradições filosóficas muitas vezes se manifestaram na falta de espaço e valorização dessas tradições nos currículos acadêmicos e nos espaços de debate filosófico. A filosofia africana, por exemplo, ainda é marginalizada e pouco estudada nas universidades, o que dificulta o acesso e a compreensão de suas contribuições para o pensamento filosófico global. O racismo epistêmico é um dos elementos determinantes no ensino de filosofia que silenciou as contribuições africanas para o pensamento filosófico. Assim, minha jornada foi solitária, como a maioria das pessoas que decidem romper com a hegemonia do pensamento filosófico.
O ensino de filosofia nas universidades ainda é uma história da filosofia ocidental?
Como eu sinalizei anteriormente. Infelizmente, o ensino de filosofia nas universidades ainda é predominantemente focado na história da filosofia ocidental, deixando de lado as diversas tradições filosóficas não-europeias. Isso contribui para a perpetuação de uma visão eurocêntrica e excludente do conhecimento filosófico, limitando assim a compreensão da diversidade e riqueza do pensamento humano.
Em que medida poderíamos afirmar que a história da filosofia europeia operou na lógica do epistemicídio?
A história da filosofia europeia, em muitos casos, operou na lógica do epistemicídio ao negligenciar, silenciar e até mesmo negar a existência de outras tradições filosóficas não-europeias. Essa exclusão sistemática e desvalorização do conhecimento produzido por povos não-europeus contribui para a manutenção de relações de poder e dominação no campo filosófico, perpetuando assim a marginalização e invisibilização de saberes não eurocêntricos.
Como é ser um corpo negro num ambiente ainda majoritariamente branco e masculino, como é a filosofia institcuional brasileira?
Ser um corpo negro num ambiente ainda majoritariamente branco e masculino, como é a filosofia institucional brasileira, é enfrentar diariamente o racismo subjetivo/estrutural e a exclusão social que permeiam esses espaços. A filosofia brasileira, assim como em muitos outros países, ainda carece de representatividade e diversidade em sua composição, o que limita a pluralidade de vozes e perspectivas no debate filosófico. É fundamental que haja uma maior inclusão e valorização de corpos negros e de outras minorias na filosofia institucional, para que assim possamos construir uma filosofia mais plural, justa e democrática.