Nota da Anpof sobre os 60 anos do Golpe Militar de 1964
01/04/2024 • Notas e Comunicados
A Diretoria da Anpof, com a colaboração do Prof. Fabio Passos (UFPI), não quer esquecer jamais!
Nos 60 anos do Golpe Militar de 1964, torna-se necessário não apagar, não esquecer essa pecha amarga de nossa História. É fundamental, portanto, repudiar um capítulo tão sombrio que, não apenas estancou nossa democracia, mas antes, manchou esse País de sangue e medo. Nesse sentido, a Filosofia não se furta a pensar e dizer um “não” a tudo que minimiza a condição humana, que irrompe em ditaduras e, em se nega a uma afirmação à vida Donde a Filosofia deve, em um dever ser, conclamar o não esquecimento através do pensamento, da memória e de nossa experiência no mundo.
Em uma alusão à Hannah Arendt, o mundo, que se constitui como algo comum a muitos, e sua preservação, passam, necessariamente, por “ver” e “conhecê-lo” tal como ele é realmente, o que demanda que se falem e que se troquem experiências sobre o mundo. O falar e trocar experiências sobre o mundo tem como mote a busca de significá-lo, o que é realizado pela faculdade de pensamento, uma atividade da vida do espírito que, ao ser exercida, busca fazer com que as pessoas se reconciliem com a realidade e, consequentemente, se sintam pertencentes a um mundo comum. Na busca do pensamento em significar o que o mundo é realmente, ele traz à sua presença aquilo que está ausente, mas, contudo, presente enquanto “coisa pensamento”: objetos experienciados que são dessensorializados, desespacializadas e armazenados pela memória, os quais o pensar manipula na busca de significá-los. A política do “não à memória” aparece-nos como um legado que, de fato, impossibilita a concretização do direito à memória no plano coletivo: um dos elementos constituidores de verdadeiros corpos políticos.
O que trazemos à nossa presença quando buscamos nos reconciliar com vinte e quatro anos de ditadura civil militar? O que há de “coisa pensamento”, objetos retidos pela memória, se esta é atacada em suas bases constitutivas por políticas de esquecimento e de sigilo, que se iniciaram com a promulgação do AI-5 e que se “perpetuaram” com a Lei de Anistia, a qual ainda deita raízes em nossa construção de mundo comum? A redução do status das sociedades modernas a “não políticas”, como adverte Giorgio Agamben, não seria um desdobramento da incapacidade de experienciar o mundo comum? Contudo, a inauguração de monumentos em memória dos mortos e desaparecidos durante a ditadura civil militar e o grande número de pesquisas entorno desse tema não podem ser tomados como um movimento de resistência à tentativa recorrente de fazer de todos nós indivíduos dóceis e úteis?
“Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça” o dia 31 de março de 1964!