Nota do GT de Filosofia da Tecnologia "Por uma tecnologia comprometida com os interesses da sociedade brasileira"

Em seu V Encontro Nacional, realizado nos 7 e 8 de dezembro de 2020, o Grupo decTrabalho (GT) da Filosofia da Tecnologia e da Técnica da Associação Nacional de Pós- Graduação em Filosofia (ANPOF) se reuniu para refletir sobre os desafios e os compromissos dessa área filosófica no cenário brasileiro atual. O encontro foi realizado de forma remota devido ao contexto da pandemia da Convid-19, que evidenciou de forma inequívoca a necessidade de se estimular o desenvolvimento de tecnologias nacionais para o enfrentamento de crises como a que estamos vivendo.

Levando em conta a importância da tecnologia na vida humana contemporânea, suas benesses e seus perigos, e tendo em vista a missão da filosofia como reflexão crítica e provocação ético-política, o GT vem a público manifestar sua preocupação com o atual estágio das políticas tecnológicas brasileiras, seja no que tange à [1] expressiva diminuição nos investimentos em ciência e tecnologia, especialmente aquelas desenvolvidas nos ambientes universitários e nas demais instituições públicas de pesquisa, seja no que diz respeito [2] ao compromisso de que a tecnologia seja desenvolvida em conexão com os interesses das populações mais vulneráveis e do meio-ambiente.

Desses dois aspectos depende o presente e o futuro do nosso país, porque qualquer progresso social depende de uma política séria que priorize a adequada aplicação dos recursos públicos em benefício da própria sociedade, o que passa pela valorização da educação, que é onde a ciência e a tecnologia encontram o terreno fértil para seu desenvolvimento. Além disso, é urgente que as políticas tecnológicas sejam orientadas pelo compromisso com o trabalho, a justiça social e a defesa do meio-ambiente, sem o que, a tecnologia será mais um instrumento de concentração de riquezas e de negação dos interesses nacionais.

Como grupo de pesquisadores e pesquisadoras dos variados aspectos dessa temática, acreditamos que é urgente abrirmos um debate nacional, com ampla participação das universidades, dos institutos de pesquisa e da sociedade civil em geral, a fim de refletir e desenvolver um pensamento tecnológico que nos ajude enquanto país a ter uma vida boa, com poder, riqueza ou outros fins definidos socialmente. A tecnologia precisa, afinal, contribuir para a resolução dos graves problemas sociais e ambientais que nos atingem e isso passa pelo desenvolvimento de políticas tecnológicas que sejam brasileiras, na medida em que beneficiem o Brasil, os brasileiros e brasileiras.