Sugestão de quesitos que poderiam compor o documento da área de Filosofia no Qualis-Periódicos

Dennys Garcia Xavier

05/05/2020 • Revisão do Documento de Área da CAPES - 2015

20 Jun 2015

O Qualis-Periódicos é um importantíssimo instrumento não somente de avaliação na área acadêmica, mas também de orientação de publicações e de indução na melhoria dos periódicos. Por isso ele também deve ser pensado – e esse seria um aspecto dos mais fecundos – como instrumento político de indução de melhoramentos para os periódicos que nele se espelham.

Nesse sentido, entendemos que para os que são avaliados pelo Qualis-Periódicos na área de Filosofia existem três grandes dificuldades para tornar esse instrumento indutor e producente nas atividades cotidianas dos respectivos periódicos, a saber:

a) a predominância de avaliação qualitativa e não objetiva;

b) a pouca diferenciação interna no interior de cada substrato;

c) a diferenciação sutil entre substratos importantíssimos, como B1 e A1, e A1 e A2.

Todos esses problemas, como o da indução de melhorias no cotidiano dos periódicos, ou o da explicitação de quesitos objetivos para avaliação, poderiam ser resolvidos por uma maior diferenciação interna dos substratos. Essa diferenciação poderia ocorrer em duas direções:

a) Explicitação dos itens formais que um periódico deveria, progressivamente, preencher para ser bem avaliado. Por exemplo (mas são meramente exemplos): número de artigos por volume, identificação dos autores com filiação institucional e email, cabeçalho com informações da revista em todas as páginas do artigo, data de recebimento e de aceite dos artigos, bibliografia em conformidade com a ABNT ou algum código internacional, sumário em duas línguas, etc.

b) Explicitação dos itens qualitativos que um periódico deveria progressivamente preencher para ser bem avaliado. Por exemplo (mas são meramente exemplos): composição do conselho editorial e do conselho consultivo, número de artigos publicados por doutores, número de artigos publicados por doutores vinculados a programas de pós-graduação, número de artigos estrangeiros, grau de endogenia do periódico, periodicidade do periódico (semestral, quadrimestral, trimestral), regularidade na publicação dos números, número e qualidade dos indexadores,  vínculo com editoras, financiamento por agências ou FAP’s, etc.

Se houvesse uma avaliação explícita em relação aos itens formais e qualitativos, conforme aqui sugeridas, poderíamos avançar duplicemente na política de indução de melhorias nos periódicos acadêmicos. Por um lado, as revistas menos bem elaboradas, do ponto de vista formal, poderiam se ocupar de preparar bem os respectivos periódicos, para que eles adquiram os requisitos exigidos para uma divulgação adequada e eficiente do conhecimento científico. Por outro lado, à medida que avançarem nesses degraus, receberão o devido reconhecimento tanto do Qualis como da respectiva comunidade científica, que passará a dirigir seus artigos especializados para as revistas mais aptas para realizar a veiculação da produção científica. Desse modo, essas melhorarão seus quesitos qualitativos, tornando-se mais bem avaliadas pelo Qualis e mais atrativas em face da comunidade acadêmica. É este circuito que deveria ser instalado por uma política bastante explícita de avaliação.

Gostaríamos de nos posicionar, por fim, em relação a um item provavelmente polêmico: a exigência de pertencer ao Scielo ou Scopus para ter acesso a financiamento do CNPq. Deveria existir, por um lado, um conjunto de critérios qualitativos, aplicados de modo disjuntivo, para que isso fosse decidido objetivamente. Mas submeter um produto tão complexo, como um periódico científico, aos critérios de apenas dois indexadores e ao poder respectivo que eles passam a concentrar, pode gerar indesejáveis distorções. Por outro lado, é notório que os quesitos de avaliação desses repertórios/indexadores estão fortemente aderidos às áreas de produção de conhecimentos tecnológicos, selecionando características que estão bem distanciadas da área de humanidades. Por exemplo, a exigência de veicular “x%” dos seus artigos em língua inglesa. Ora, sabemos que se faz boa filosofia em alemão, espanhol, francês e italiano, sem falar em outras línguas. Por que teríamos de veicular toda essa produção restritivamente em inglês? Por isso, seria importante não nos alinharmos com indexadores que formulam políticas de avaliação que são pouco saudáveis para a nossa sobrevivência enquanto área de humanidades.

Soma-se a isso o fato de o não financiamento de muitos periódicos se transformar em um fator de não indução de melhorias nesses veículos de produção acadêmica, e isso adquire os matizes de um ciclo vicioso e não de uma política virtuosa de indução da produção acadêmica especializada.

Dennys Garcia Xavier (Coordenador do PPGFIL - UFU)

Marcos César Seneda (Revista Educação e Filosofia - UFU)