Notas sobre a concepção hobbesiana das relações do desejo e da razão com o tempo
v. 21 n. 1 (2016) • Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade
Autor: João Carlos Brum Torres
Resumo:
O propósito deste artigo é discutir o modo como Hobbes concebe a relação do desejo com o tempo, entendido o ponto como o esforço para determinar se e como o filósofo atribui privilégios práticos ou ao presente, ou ao passado, ou ao futuro, ou se, alternativamente, sua posição é de neutralidade com relação a essa questão. O desenvolvimento da análise mostra que aqui o progresso depende criticamente do modo como Hobbes concebe a racionalidade dos comportamentos humanos. Essa ligação da racionalidade com o tempo não constitui, contudo, todo o necessário para o trabalho elucidativo a que se propõe o artigo, o qual depende ainda da consideração de vários elementos doutrinários complementares, notadamente a explicação do modo como Hobbes entende a natureza metafísica do tempo, da vida e das paixões que a animam; de sua concepção dos sinais, dos nomes e, em geral da linguagem e da relação desta com o cálculo, assim como de sua tese sobre o estatuto da felicidade humana. A partir da retomada articulada desses diferentes aspectos, o artigo concluirá mostrando que Hobbes, ao introduzir a distinção entre bem aparente e bem real, sustentará que, malgrado a shortsightness a que nos compelem as paixões, a capacidade que nos dá a razão de calcular causas e consequências nos permite visualizar prudencialmente o futuro, de modo que, podendo recurvar a linha do tempo e, assim, anular o privilégio que espontaneamente damos ao presente, não só também podemos, mas devemos, fazer do futuro o guia para construção de nossas vidas.
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2318-9800.v21i1p29-44
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/115964
Palavras-Chave: Hobbes, tempo,desejo,razão, cálculo
Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade
Organizada pelo Grupo de Filosofia Crítica e Modernidade (FiCeM), um grupo de estudos constituído por professores(as) e estudantes de diferentes universidades brasileiras, a revista Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade é uma publicação semestral do Departamento de Filosofia da USP que, iniciada em 1996, pretende estimular o debate de questões importantes para a compreensão da modernidade.
Tendo como ponto de partida filósofos(as) de língua alemã, cujo papel na constituição dessa reflexão sobre a modernidade foi – e ainda é – reconhecidamente decisivo, os Cadernos de Filosofia Alemã não se circunscrevem, todavia, ao pensamento veiculado em alemão, buscando antes um alargamento de fronteiras que faça jus ao mote, entre nós consagrado, da filosofia como “um convite à liberdade e à alegria da reflexão”.