O LIVRE-PENSAMENTO: UM ENTUSIASMO DA RAZÃO?

Vol. 1, N. 2 (2004) • DoisPontos

Autor: Pascal Taranto

Resumo:

A acusação de entusiasmo é um dos temas mais paradoxais da polêmica entabulada
por Berkeley no Alciphron contra o livre-pensamento. Com efeito, o entusiasmo designa
tradicionalmente uma forma de iluminação religiosa aparentemente incompatível com as
pretensões do livre-pensamento à racionalidade crítica. Ora, essa acusação não se dirige
aos principais deistas como Toland e Collins (antes qualificados como racionalistas obstinados)
mas principalmente a Shaftesbury, cuja análise inovadora do entusiasmo como
paixão universal, criativa ou destrutiva segundo o temperamento do indivíduo, é recusada
por Berkeley. Este artigo quer mostrar que a recusa de Berkeley traz subentendida uma
concepção da razão como disciplina educativa heterônoma e que ela reenvia a uma imagem
tradicional do homem, cuja natureza só é bestial antes ou sem a educação religiosa,
contra a reavaliação do papel epistemológico e moral conferido pela análise shaftesburiana
do entusiasmo ao desejo e ao sentimento individuais.

Abstract:

In the polemic raised by Berkeleys Alciphron against Freethinking, one
of the most paradoxical topics is the accusation of enthusiasm. For enthusiasm traditionnally means a kind of religious illumination seemingly incompatible with
the critical rationalism the freethinkers pretend to assume. Now this accusation is
not raised against the foremost british deists like Toland and Collins (rather
dismissed as rationalistic bigots), but against Shaftesbury, whose new analysis of
enthusiasm as a universal passion, creative or destructive following only the
temper of the individual, is strongly rejected by Berkeley. This papers aim is to
show that Berkeleys rejection of this modern sense of enthusiasm involves a
traditional and conservative conception of reason as an heteronomous, educational
discipline of man, whose nature would only be bestial before -or withoutreligious
education, against the new epistemological and moral role given to
desire and sentiment by Shaftesburys analysis of enthusiasm.

 

DOI: http://dx.doi.org/10.5380/dp.v1i2.1931

Texto Completo: https://revistas.ufpr.br/doispontos/article/view/1931/1612

Palavras-Chave: entusiasmo,razão, livre-pensamento,Berkeley,S

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