NARRATIVA, MEMÓRIA E POLÍTICAS DE ESQUECIMENTO: UM DIÁLOGO ENTRE PAUL RIC?UR, HANNAH ARENDT E BEATRIZ SARLO
V. 16 N. 2 Verão de 2019 • Kalagatos - Philosophical Journal
Autor: Elivanda Oliveira Silva; Fábio Abreu dos Passos
Resumo:
Os seres humanos não são capazes de guardar na memória todos os acontecimentos experienciados. Diante disso, faz-se necessário negociar o que iremos reter na memória e o que iremos deixar de fora, cujo destino é o limbo. Em sociedades modernas, massificadas e apáticas em relação aos assuntos públicos, retira-se das mãos dos atores o direito de escolha sobre o que será rememorado ou esquecido, passando a ser gestado por grupos com interesses particulares, que impõem o silêncio sobre alguns eventos. Assim, emudecem as narrativas memoriais sobre crimes hediondos, tais como torturas e assassinatos, substituindo-as pela força coercitiva da anistia, o pseudônimo da amnésia coletiva. Nesse papel, a anistia desaparece com o que deveria ser punido, levando a uma indistinção entre perdão e esquecimento. Para que esse mal não paire sobre sociedades do Cone Sul que foram assoladas por regimes ditatoriais em meados do século XX, faz-se necessário recordá-los, através de narrativas, para que eles não voltem a ocorrer e para que os laços sociais, perdidos durante anos de regimes autoritários, sejam restaurados. O objetivo do presente artigo é analisar o embate entre as políticas de esquecimento e as narrativas memoriais a partir do entrelaçamento das reflexões de Paul Ricœur, Hannah Arendt e Beatriz Sarlo.
Abstract:
Human beings are not able to keep, in their memories, all the events experienced. Therefore, it is necessary to negotiate what we will retain in our memory and what we will leave out, whose destination is limbo. In modern, widespread and apathetic societies in relation to public affairs, the right to choose what will be remembered or forgotten is removed from the actors' hands, starting to be managed by groups with particular interests, which imposes silence on some events . Thus, the memorial narratives about heinous crimes, such as torture and murder, are muted, replacing them with the coercive force of amnesty, the pseudonym of collective amnesia. In this role, the amnesty disappears with what should be punished, leading to an indistinction between forgiveness and forgetfulness. So that this evil does not hover over Southern Cone societies that were plagued by dictatorial regimes in the mid-twentieth century, it is necessary to remember them, through narratives, so that they do not reoccur and so that social ties are lost during years of authoritarian rule, be restored. The purpose of this article is to analyze the clash between forgetfulness politices and the memorial narratives, from the intertwining of the reflections of Paul Ricœur, Hannah Arendt and Beatriz Sarlo.
ISSN: 1984-9206
Texto Completo: https://revistas.uece.br/index.php/kalagatos/article/view/6589
Palavras-Chave: Narrativas memoriais; políticas de esquecimento; perdão; anistia.
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