KANT, LIBERDADE E A HERMENÊUTICA DO FRACASSO
Kriterion, v. 64, n. 155 (2023) • Kriterion: Revista de Filosofia
Autor: Pedro Rego
Resumo:
Neste artigo, analiso o modo como uma importante tradição interpretativa do kantismo se deixou desencaminhar pelo fato de Kant trabalhar, em sua filosofia prática, com duas acepções distintas e aparentemente conflitantes da liberdade da vontade humana em sentido positivo: como causalidade numênica e como poder de escolha entre possibilidades alternativas. Em primeiro lugar, defendo que nenhuma acepção de liberdade na filosofia kantiana pode ser conflitante com aquela que, afirmada nas mais importantes obras fundacionais do filósofo, a define como o efetivo (e não meramente potencial) exercício da racionalidade moral. Em seguida, procuro mostrar, por argumentos tanto textuais quanto conceituais, a impertinência da adesão predominante a uma versão equivocada da segunda delas: a liberdade de escolha como o poder de escolher a favor ou contra a moralidade. Finalmente, sustento que a única maneira consistente de se entender a liberdade de escolha em consonância com a liberdade como efetivo exercício da moralidade implica uma real dificuldade conceitual no kantismo, que é o problema da imputabilidade das decisões imorais. O fio condutor desta exposição é uma interpretação das passagens mais importantes do artigo de Karl Ameriks de 2002 intitulado “Pure Reason of Itself Alone Suffices to Determine the Will”.
Abstract:
In this paper I attempt to show how an important traditional line of interpretation of Kantian philosophy went astray by the fact that Kant works in its practical philosophy with two distinct and apparently conflicting conceptions of the freedom of human will, namely, freedom as noumenal causality and freedom as the power of choice between alternative possibilities. Firstly, I argue that no conception of freedom in Kant`s philosophy can possibly conflict with that asserted in his most foundational works on practical philosophy, which defines freedom as the actual exercise of moral rationality. I next endeavor to show, by means of both textual and conceptual arguments, the inconsistency of the dominant adoption of a wrong version of the second alternative, namely that of freedom of choice as a supposed free power of choosing for or against morality. Finally, I defend that the only consistent way of conceiving Kant’s freedom of choice in accordance with his freedom as the actual exercise of morality reveals a real conceptual difficulty in Kant`s practical philosophy, namely, the problem of the accountability of immoral decisions. The guidingthread of this exposition is an interpretation of Karl Ameriks’s article of 2002: “Pure Reason of Itself Alone Suffices to Determine the Will”.
ISSN: 1981-5336
DOI: https://doi.org/10.1590/0100-512X2023n15509pr
Texto Completo: https://www.scielo.br/j/kr/a/X67MDHMsVxy8zJJP7DKzcCv/?lang=pt#
Palavras-Chave: Liberdade; Moralidade; Escolha; Imputabilidade
Kriterion: Revista de Filosofia
A revista Kriterion, publicação do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, é a mais antiga do Brasil. Foi fundada em 28 de junho de 1947 e tem a missão de publicar pesquisa original e de alta qualidade em filosofia.
A Revista está indexada, atualmente, em vários importantes catálogos internacionais, como o Philosopher´s Index (EUA), MLA International Bibliography (EUA), Bibliographie de la Philosophie (Louvain, Bélgica), EBSCO (Massachusetts, EUA), SciELO (América Latina), e nacionais, como o CCN/IBICT e o Pergamum. Publica, atualmente, três números por ano. Conceito QUALIS/CAPES periódicos: A1.