POR QUE AGOSTINHO NÃO É UM FILÓSOFO MEDIEVAL (E POR QUE É IMPORTANTE COMPREENDER ISSO)

Kriterion, v. 56, n. 131 (2015) • Kriterion: Revista de Filosofia

Autor: Ernesto Perini-Santos

Resumo:

Agostinho é um filósofo medieval ou um filósofo antigo? Alguns autores defendem que ele é um filósofo medieval porque desempenhou um papel central na absorção da filosofia grega num quadro teórico cristão. Sua importância na constituição do pensamento cristão é sem dúvida enorme, mas não fornece um bom argumento para uma tese sobre a periodização em história da filosofia. Agostinho é um filósofo antigo porque pertence ao mundo antigo, não ao mundo medieval, e esta fronteira histórica corresponde à queda do Império Romano do Ocidente. Os fatos que parecem sustentar ambas as respostas são bem conhecidos, o que deve ser ajustado, portanto, é a pergunta: o que explica modificações amplas pelas quais a filosofia passou ao longo tempo? Os mecanismos envolvidos nessas modificações podem ser compreendidos uma vez que vemos a filosofia como parte da cultura, e parece claro haver uma ruptura muito importante entre os séculos V e XI. Mais interessante do que saber em que período classificar Agostinho é podermos colocar perguntas mais explicativas sobre essas mudanças: como tradições filosóficas nascem e morrem? Minha proposta é utilizar o modelo da epidemiologia da cultura, de Dan Sperber, para responder esta pergunta.

Abstract:

Is Augustine a medieval or an ancient philosopher? Some authors advogate that he is a medieval philosopher because he played a crucial role in the absorption of Greek Philosophy into the Christian theorethical framework. While this is certainly true, it does not give us a proper way to understand the periodization of the history of philosophy. Augustine is an ancient philosopher because he belongs to the ancient world, and not to the medieval world, and the frontier is roughly established by the fall of Western Roman Empire. The facts that seem to ground both answers are well known, we should therefore have a better grasp of the question: what explains the large changes of philosophy along its history? These changes may be better understood once we see philosophy as part of the culture, and it seems clear that there are huge cultural differences between the 5th and the 11th centuries. More interesting than classifying Augustine as a medieval or as an ancient author, however, is asking better questions concerning the history of philosophy: how do philosophical traditions born and die? My proposal is to use Dan Sperber’s model on the epidemiology of culture to answer this question.

Texto Completo: http://www.scielo.br/pdf/kr/v56n131/0100-512X-kr-56-131-0213.pdf

Palavras-Chave: Agostinho,historiografia filosófica,filosofia

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