"Uma História Heroica da Modernidade": comentários sobre o eu impertinente de Josef Früchtl

Inquietude, v. 3, n. 1 (2012) • Revista Inquietude - Revista dos Estudantes de Filosofia da UFG

Autor: Carla Milani Damião; Jadson Teles Silva; Joyce Neves de Campos; Talita Trizoli

Resumo:

Josef Früchtl veio a Goiânia como professor visitante em agosto de 2011, a convite do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da FAFIL – UFG, com auxílio do CNPQ. Ministrou um conjunto de quatro aulas, cuja fundamentação pode ser encontrada em seu livro O eu impertinente. Uma história heroica da modernidade. A vinda do Prof. Früchtl e sua teoria sobre filosofia do cinema contribuiu para a formação do Grupo de Estudos Kinosophia, grupo que se fortaleceu ao discutir suas ideias no exercício de tradução de suas aulas e textos, bem como da revisão dos filmes por ele indicados. Os artigos, portanto, são resultados desta experiência a ser contada em três etapas: 1 - Modernidade e subjetividade, Hegel e o Western; 2 - Modernidade agonal, romantismo e o filme de gângster; 3 - Modernidade híbrida, Nietzsche e a ficção científica.

O pressuposto de sua filosofia do cinema em O eu impertinente, como indica o subtítulo Uma história heroica da modernidade, é uma reflexão sobre a modernidade associada à subjetividade. A esfera da subjetividade, que por sua vez, funda a própria filosofia moderna com Descartes, é revista sob a perspectiva hegeliana, isto é, sob a impossibilidade do Eu ser entendido como unidade. Ressalta-se dessa perspectiva a divisão interna e conflitante do Eu, que pode ser entendido como um Eu “fraturado”, sem o auxílio da solução habermasiana indicada pela categoria da autodeterminação. Früchtl recupera a ideia adorniana de “declínio do sujeito”, que mantém o caráter paradoxal hegeliano sob uma visada filosófica-histórica e cultural. A perspectiva crítico-negativa adorniana permite a Früchtl ampliar a discussão para a dimensão estética, cuja função não se restringe ao domínio da filosofia da arte, mas, em sentido mais amplo, reúne a estética - em seu aspecto cognitivo e criativo - à política por meio da experiência estética geradora de uma posição antifundamentalista e democrática. Referindo-se a Richard Rorty, Früchtl afirma que: “(...) a Modernidade [ele às vezes também se refere à pós-modernidade] não apresenta nenhuma animosidade para com a arte. Ademais, a modernidade é a era da ‘cultura estetizada’, e isso significa que um modo de vida deve e pode abrir mão de bases firmes, inabaláveis, verdades e justificativas permanentemente válidas”. O alcance teórico das considerações de Früchtl sobre a modernidade é múltiplo em referências, as quais ele próprio indica no prefácio de seu livro:

Meu livro retoma a teoria da “transformação (Transformation)” (Habermas), “decomposição (Dekomposition)” (Lyotard), ou “deconstrução (Dekonstruktion)” (Derrida) da subjetividade moderna, a fim de submetê-la a uma observação gradual e diferenciada, em outras palavras, para demonstrar de uma maneira nova e detalhada o que “decomposição” e “deconstrução” (neste caso) realmente significa. O Eu tornase então o herói (masculino) ambivalente da modernidade, cuja história (Geschichte) é contada em três diferentes níveis de sobreposição. Esta hipótese precisa ser comprovada não apenas sob um ponto de vista filosófico, no entanto, mas também de um ponto de vista histórico cultural, e eu vou fazer isto utilizando o filme. A observação filosófica alcança primeiro Hegel via Lukács e Horkheimer/Adorno para a modernidade clássica e auto-justificada de Habermas; em segundo lugar o romantismo para Taylor e Rorty - a modernidade agonal na qual existem agora mais claramente duas variações, ou seja, o trágico (Taylor) e o irônico (Rorty); e em terceiro lugar, de Nietzsche a Foucault e Deleuze/ Guattari - a modernidade híbrida. Em termos culturais, essas três vertentes tradicionais são refletidas de forma mais significativa pelos gêneros cinematográficos do Western, filmes de gângster e ficção científica. A modernidade e seu princípio filosófico, o Eu, aparece assim em três variações: clássica, agonal, e híbrida (FRÜCHTL, 2004, 18-19/2009, 8).

Estas três variações, junto a suas referências teóricas, serão expostas em três artigos, sendo o primeiro deles o que ora apresentamos nesta edição. Não se trata de uma análise e discussão de suas teses ou de uma verificação crítica de sua interpretação dos inúmeros filósofos referenciados, mas de um comentário, cujo mérito será de apresentar as ideias do autor da maneira mais próxima possível ao texto original, o que incluirá muitas citações diretas de seu texto, traduzido pela primeira vez no Brasil.

 

ISSN: 2177-4838

Texto Completo: https://drive.google.com/file/d/0B4AeuuKw4oJnRDMtaHU1MXBRYVE/view

Revista Inquietude - Revista dos Estudantes de Filosofia da UFG

Indexada na QUALIS como B4, a Inquietude é a revista científica (ISSN 2177-4838) dos estudantes de graduação e pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Goiás. Trata-se de um periódico acadêmico semestral que publica textos filosóficos inéditos: artigos, traduções, resenhas e entrevistas.