IDEOLOGIA ENTRE IPSEIDADE E ALTERIDADE: REFLEXÕES SOBRE A REALIZAÇÃO HUMANA NO AGIR ÉTICO SEGUNDO HENRIQUE CLÁUDIO DE LIMA VAZ

Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia - v.13 n. 35 (2021) • Revista Kínesis

Autor: Leandro Bertoncello

Resumo:

A articulação conceitual entre a Antropologia Filosófica e a Ética tem lugar, segundo Lima Vaz, na categoria do existir intersubjetivo. É no encontro com o outro que o sujeito afirma, numa relação recíproca de reconhecimento, a sua infinitude intencional, na medida em que compreende a infinitude intencional do outro e é por ela compreendido. A realização humana, nesse desenvolvimento ético, é a efetivação existencial do paradoxo de que o sujeito torna-se ele mesmo (ipse) na sua abertura constitutiva ao outro (alius vel aliud). Assim, a identidade ética tem caráter essencialmente dinâmico, expresso na conquista permanente da ipseidade que só se constitui plenamente pelo reconhecimento da ipseidade do outro. A passagem ao universo ético supõe, então, entre os sujeitos da comunidade ética, uma reciprocidade livre e consciente que pode desequilibrar-se, resultando na primazia de um dos seus termos sobre o outro. Lima Vaz identifica os dois extremos dessa assimetria na egologia radical de Husserl e na heterologia radical de Levinas, e propõe uma via media que permita ao sujeito auto-afirmar-se sem coisificar o outro nem coisificar-se pela presença do outro. O solipsismo absoluto (Eu sem Nós) e o absoluto altruísmo (Nós sem Eu) são extremos que se engendram mutuamente, evidenciam a impossibilidade de se fazer da comunidade dos sujeitos o horizonte universal do ser e incidem na vida política como inspiração para as ideologias do individualismo e do totalitarismo. Mediante a reunião, análise e interpretação da bibliografia, bem como a sistematização das ideias obtidas nessas diversas fontes, objetiva-se mostrar que as ideologias podem ser úteis para a afirmação e às reivindicações dos sujeitos em suas diversas formas de vida, mas podem também levar aos extremos da objetificação do outro e, portanto, do próprio sujeito, sendo imperiosa uma abertura transcendente ao Ser universal.

Abstract:

The conceptual articulation between Philosophical Anthropology and Ethics takes place, according to Lima Vaz, in the category of intersubjective existence. It is in the encounter with the other that the subject affirms, in a reciprocal relationship of recognition, his intentional infinitude, as he understands the intentional infinitude of the other and is understood by it. Human fulfillment, in this ethical development, is the existential realization of the paradox that the subject becomes himself (ipse) in his constitutive openness to the other (alius vel aliud). Thus, ethical identity has an essentially dynamic character, expressed in the permanent conquest of ipseity that is only fully constituted by the recognition of the ipseity of the other. The passage to the ethical universe supposes, then, between the subjects of the ethical community, a free and conscious reciprocity that may become unbalanced, resulting in the primacy of one of its terms over the other. Lima Vaz identifies the two extremes of this asymmetry in Husserl's radical egology and Levinas' radical heterology, and proposes a middle way that allows the subject to self-assert himself without objectifying the other or becoming objectified by the presence of the other. Absolute solipsism (I without We) and absolute altruism (We without I) are extremes that mutually engender each other, show the impossibility of making the community of subjects the universal horizon of being, and affect political life as an inspiration for the ideologies of individualism and totalitarianism. Through gathering, analysis, and interpretation of bibliography, as well as systematization of the ideas obtained from these various sources, the goal is to show that ideologies can be useful for the affirmation and claims of the subjects in their various forms of life, but they can also lead to the extremes of the objectification of the other and, therefore, of the subject itself, being imperative a transcendent opening to the universal Being.

ISSN: 1984-8900

DOI: https://doi.org/10.36311/1984-8900.2021.v13n35.p229-252

Texto Completo: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/12745

Palavras-Chave: Lima Vaz, Ideologia, Intersubjetividade, Individualismo, Totalitarismo

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