O que é função? Debates na filosofia da biologia contemporânea

Vol. 7, No. 3 • Scientiae Studia

Autor: Nei Freitas Nunes-Neto; Charbel Niño El-Hani

Resumo:

Neste artigo, examinamos duas abordagens bastante influentes sobre a natureza das atribuições/explicações funcionais: a abordagem etiológica selecionista de Wright e a análise funcional de Cummins. A primeira parece capturar de modo adequado o significado de várias explicações na biologia evolutiva, ainda que não dê conta de toda e qualquer explicação evolutiva. A segunda, por sua vez, é mais aplicável a explicações fisiológicas ou de outras áreas científicas que lidam com sistemas complexos. Entendemos as duas teorias como empreitadas distintas, que não devem ser combinadas em uma abordagem única sobre as funções. Isso nos leva a apoiar a rejeição de tal unidade por Godfrey-Smith, na forma de sua tese do consenso dualista. Esta tese pode ser ancorada na distinção entre biologia evolutiva e biologia funcional, esboçada por Mayr e Jacob. Tratamos também da crítica de Cummins às abordagens etiológicas selecionistas, as quais ele denomina "neoteleológicas". Embora consideremos que várias das críticas de Cummins de fato localizam falhas nessas abordagens, buscamos mostrar que sua tentativa de rejeição da neoteleologia como um todo é ilegítima. A partir das críticas de ambos os lados do debate sobre as funções, a compreensão desta noção central da biologia tem sido sobremaneira enriquecida. As críticas reforçam a necessidade de delimitar o escopo e o limite de cada uma das abordagens e, assim, apontam no sentido de um pluralismo no debate sobre atribuições/explicações funcionais na filosofia da biologia.

Abstract:

In this paper, we examine two very influential approaches to the nature of functional explanations/attributions: Wright's selectionist etiological approach and Cummins' functional analysis. The former seems to adequately grasp the meaning of several explanations in evolutionary biology, even though it is not sufficient to account for each and every evolutionary explanation. The latter, in turn, is more applicable to explanations in physiology and in other scientific areas dealing with complex systems. We see these two theories as distinct enterprises, which should not be combined in a single approach to functions. This leads us to support Godfrey-Smith's rejection of such a unity, in the form of his dualist consensus thesis. This thesis can be grounded on the distinction between evolutionary and functional biology, as sketched by Mayr and Jacob. We also address Cummins' critique of selectionist etiological approaches, which he labels as "neo-teleological". Although we consider that several criticisms raised by Cummins do identify flaws in these approaches, we intend to show that his attempt to reject neo-teleology as a whole is illegitimate. Criticisms from both sides of the debates about functions are contributing to enrich the comprehension of this central concept in Biology. These criticisms reinforce the need of delimiting the scope and limits of each approach, and, thus, point in the direction of a pluralism in the debate about functional explanations/attributions in the Philosophy of Biology.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662009000300002

Texto Completo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662009000300002&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Palavras-Chave: Function,Teleology,Functional analysis.,Etiol

Scientiae Studia

Associação Filosófica Scientiae Studia - Revista Scientiae Studia