Correspondência de Dom Antônio Ferreira Viçoso (1823-1875)

Lúcio Marques e Maurílio Camello (Orgs.) |  Editora FUNAG (2024)
579 páginas | Acesse a obra

A Fundação Alexandre de Gusmão – FUNAG - publica o livro “Dom Antônio Ferreira Viçoso: correspondência (1823-1875)”, o primeiro volume da Série Scripta Brasiliana. Apresentamos ao público leitor o livro “Dom Antônio Ferreira Viçoso: correspondência (1823-1875)”, organizado pelos professores Lúcio Álvaro Marques e Maurílio Camello et alii, inaugurando a Série Scripta Brasiliana. Idealizada pelo professor Lúcio Marques, a Série é um projeto que visa divulgar fontes historiográficas inéditas nacionais, especialmente escritos filosóficos, mas trazendo também escritos teológicos, jurídicos e histórico-sociais. O objetivo é tornar acessíveis documentos inéditos escritos no Brasil durante os períodos colonial e imperial. Este primeiro livro da Série, publicado pela Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), está disponível na biblioteca digital. O acesso é livre e irrestrito para todos que têm interesse em conhecer e estudar as cartas e outros escritos que estão sendo trabalhados e, neste momento, terão a oportunidade de aprofundar os estudos sobre a vida, o sacerdócio, o trabalho como bispo, não só pela biografia, mas pelas correspondências que proporcionam conhecer muito mais sobre esse grande pastor, Dom Viçoso (1787-1875), e sua dedicação incansável à diocese de Mariana. Após a publicação das correspondências pela FUNAG, inaugurando a Série com grande brilho, informamos com satisfação que poderemos contar com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, na pessoa da embaixadora Márcia Loureiro. Ela demonstrou um enorme interesse pelo projeto e, com presteza, colocou-se inteiramente à disposição na divulgação desse trabalho nas embaixadas. Com isso, teremos o financiamento da FUNAG para o projeto, previsto para um período de 10 anos.

Na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), o grupo de pesquisa Studia Brasiliensia, integrante do Laboratório de Filosofia e Ciências Sociais, do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais, soma-se ao grupo de pesquisa Scripta Brasiliana, ambos vinculados ao CNPq, para desenvolverem as atividades propostas no projeto da Série. Esse projeto editorial foi aprovado em março de 2023 pelo Ministério das Relações Exteriores, ficando como responsáveis pelas edições as presidências da FUNAG e de sua Editora. A grande meta é disponibilizar o maior acervo de manuscritos filosóficos trazendo textos sobre lógica, física, metafísica, teoria do conhecimento, direito, ética e política, bem como escritos temáticos sobre a escravidão, por exemplo. O trabalho que vem sendo desenvolvido com bastante seriedade e empenho de toda a equipe é coroado agora com esse apoio de importância colossal para a continuidade das atividades.

Este primeiro volume traz as correspondências de Dom Viçoso escritas durante um período de 52 anos (1823-1875), o que permite ao leitor mergulhar no contexto da época e construir um olhar bem mais profundo sobre a vida não só do bispo mas de toda a diocese de Mariana no que tange à questão religiosa e também expandir a visão sobre a realidade social, filosófica, histórica, política e cultural de todo o país naquele momento. Para os pesquisadores da vida de Dom Viçoso, o livro contém um precioso conjunto de cartas que proporcionarão uma visão bastante ampla da importância dessa coletânea na compreensão de um período histórico importantíssimo para o estado de Minas Gerais e para o Brasil.

Antônio Ferreira Viçoso nasceu em Portugal em 1787 e, depois de ser ordenado sacerdote, foi enviado em missão para o Brasil. Fundou o Colégio do Caraça e tornou-se bispo da diocese de Mariana, onde realizou intenso trabalho missionário por meio das visitas pastorais. O livro reúne quase 600 cartas que são extremamente importantes para entendermos a grandeza da atuação política, pedagógica e religiosa de Dom Viçoso e de seu trabalho à frente de uma diocese tão extensa, tendo de enfrentar dificuldades enormes para exercer seu ministério. As cartas tinham destinatários variados: desde amigos, compadres, o clero em geral até autoridades eclesiásticas, como o Vigário Geral e o Cabido, e autoridades políticas, como Ministros e o próprio Imperador. Ademais, elas fornecem um amplo escopo histórico, filosófico, sociológico, geográfico e cultural para os interessados em aprofundar os estudos sobre este período. Os temas vão desde questões relacionadas à vida cotidiana, formação e orientações para o clero e Irmãs de Caridade, reformas nas casas e nos templos, o trabalho missionário, questões administrativas da diocese, orientações espirituais para o povo em geral, repreensões ao comportamento inadequado de alguns padres, prestação de contas, decisões sobre a questão da escravidão, aconselhamento a autoridades políticas, entre outros. Um elemento que se destaca é a postura de Dom Viçoso sempre se colocando numa atitude de humildade quando finalizava as cartas e as assinava: “Seu humilde servo, Antônio, Bispo de Mariana”.

A publicação da coletânea das cartas abre com sucesso a Série Scripta Brasiliana, um projeto que visa resgatar e divulgar escritos dos períodos colonial e imperial, o que, por sua vez, também resgata a história dos colégios onde foram escritos, a biografia dos próprios autores e o ensino praticado no Brasil neste período. Com a divulgação destes documentos, a Série vai, ao longo dos 10 anos previstos para o trabalho, reconstruindo o pensamento e a visão de mundo deste período ao reunir cartas, cursus philosophicus, peças jurídicas e tratados humanísticos. É um projeto interinstitucional que conta com pesquisadores de diversas universidades das cinco regiões do Brasil, além de outras de Portugal, Espanha, México, Peru e Argentina. São muitos colaboradores de várias universidades participando deste trabalho: UFTM (coordenação), UFMG, UFSJ, UFMA, UFMT, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, UFRGS, PUCRS, UNIFRA, UNIR e ainda Universidade Nacional do México, Universidad de Granada/Espanha, Universidades de Lisboa e Coimbra/Portugal, Universidad Antonio Ruiz de Montoya/Peru e Universidad Nacional del Litoral/Argentina. Além das diversas universidades, ainda participam do projeto vários grupos de pesquisa, como o grupo de trabalho Pensamento Filosófico Brasileiro e os membros da Enciclopédia da Filosofia Brasileira, da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF); ainda o grupo Scholastica Colonialis, da PUCRS, o Laboratório de Filosofia e Ciências Sociais da UFTM, o grupo Studia Brasiliensia e o grupo Scripta Brasiliana (coordenador da Série), ambos também da UFTM.

É um projeto de extrema importância para a comunidade científica, visto que estudantes, professores, pesquisadores, pós-graduandos e especialistas em humanidades passam a ter acesso a uma fonte de pesquisa inédita que contribuirá para o aprofundamento da pesquisa sobre a filosofia colonial e imperial brasileira. O apoio da FUNAG e do Ministério das Relações Exteriores é extremamente importante para a divulgação e disponibilização dos manuscritos produzidos em um período de formação do pensamento brasileiro – essenciais tanto para entendermos a filosofia brasileira produzida nos séculos XVIII e XIX quanto para nos empenharmos na valorização da nossa filosofia diante de uma cultura desenraizada que se impôs em nosso país e ofuscou por anos textos de tamanha grandeza escritos em solo brasileiro.

A publicação das cartas de Dom Antônio Ferreira Viçoso já mostra a importância da Série pensada para ser um canal de divulgação dos manuscritos que são um espelho da excelência em filosofia produzida em nosso país e que por muitos anos ficaram na condição de inéditos. Sendo agora encontrados e resgatados e com o apoio da FUNAG e do Ministério, ficarão acessíveis a todos e serão uma prova de que a filosofia já existia entre nós há muitos anos. A grandeza do conteúdo dos manuscritos desconstrói a ideia de dependência cultural a que fomos submetidos ao longo de tantos anos. Parabéns a toda a equipe que colaborou e continua colaborando para que a Série se tornasse realidade e aos idealizadores pela iniciativa de um trabalho tão importante para os novos rumos da filosofia brasileira.